Segunda-feira, 18 de Maio de 2009

A minha comunicação no Seminário da A. Surdos de Guimarães

A comunicação é uma actividade de extrema importância para o ser humano. Somos seres sociais e, por isso, necessitamos de estabelecer contactos com os outros seres e… connosco.

Antes de nascer, o bebé tem, já uma comunicação com a mãe: sente o bater do seu coração e todos os movimentos que esta faz. É por esta razão que os médicos colocam o bebé recém-nascido sobre a mãe, para que ele sinta o bater do coração materno e, assim, se tranquilize da agressão que é o parto, a primeira inspiração e a hostilidade que o mundo apresenta para aquele pequeno ser.
Se o bebé for ouvinte e os pais ouvintes, a aquisição da língua faz-se de forma perfeitamente espontânea e natural, por mera e simples exposição à comunicação e língua da comunidade.
Se o bebé for surdo e tiver pais surdos, utilizadores da LGP, a comunicação acontece da mesma forma natural e espontânea, por exposição à comunicação da língua da sua família.
Qual a diferença entre estes bebés e seus pais?
No 1º caso, a língua é oral e auditiva e é a língua da maioria do seu país.
No 2º caso, a língua é visual e motora e é língua minoritária
Sabe-se, pela investigação, que as mães surdas utilizam estratégias de comunicação visuais e, rapidamente, ensinam o seu bebé a fixar o seu rosto, a fixar as suas mãos, a seguir os seus movimentos.
Quando nasce um bebé surdo numa família de ouvintes, o problema surge… 
 
Os pais ouvintes querem que os filhos surdos falem...
  • Se lhes assegurarem que isso depende do Implante Coclear, eles fá-lo-ão
  • Se lhes assegurarem que isso se pode alcançar através da LGP, eles tentarão aprender essa língua.
Mas, se lhes dizem que a língua gestual impede o desenvolvimento da oralidade, eles procurarão impedir o contacto dos filhos com essa língua...
 
Quais os problemas que se colocam aos pais?
 
 De acordo com as visões da surdez, assim se podem enquadrar as opções que são colocadas aos pais:
  • Visão clínica/terapêutica – procuram-se as causas, o diagnóstico, a opção implante coclear (vista como “a cura” para a surdez)
  • Visão linguística – põe o tónus na problemática da aquisição da língua oral/gestual
  • Visão educacional - o eterno dilema sobre as opções oralistas, gestualistas na educação da criança surda…
  • Visão social  - problemas na integração na sociedade maioritária, dificuldades na procura de emprego…
  • Visão política -  o “Deaf empowerment” movimento que luta pelo poder da comunidade surda, pelo seu direito á diferença e à língua gestual.
Assim:
·         De um lado há a defesa do oralismo que é visto como a “normalidade”, prometendo respostas com o avanço tecnológico.
·         Do outro lado há o bilinguismo que defende a LGP como a língua dos surdos e até a ideia da identidade e cultura surdas.
 
Como perspectiva antagónicas:
 
  • Normalizar – visão da saúde
  • Diminuir os estigmas –visão pedagógica
 
São, pelo apresentado, os filhos surdos profundos com pais ouvintes que levantam mais problemas.
Visões da surdez:
 
 

Ciências biológicas
 
 I

Deficiência
 
Ciências humanas
 
 I 

Diferença
 I 
 
Procuram resposta nos avanços tecnológicos
  I
 
Defendem a LG como a língua dos surdos e a ideia de uma cultura surda
 
  I
 
Procura “normalizar”
  I
 
Procura reduzir os estigmas

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A identidade surda baseia-se no uso da LG em contacto com outros surdos
Através da LG, surgem novas possibilidades de compreensão, de diálogo, de aprendizagem. Por isso, a LG é a única capaz de fornecer identidade ao surdo.
 
A identidade – é a busca de especificidades que estabeleçam fronteiras identificatórias com o outro, bem como a pertinência dos outros membros do grupo social a que pertence.
 
Os falantes de uma mesma língua interagem mais entre si, do que entre falantes de diferentes línguas.
Skliar, 1998 afirma que “o problema não é a surdez, não são os surdos nem a língua gestual, mas as representações dominantes, hegemónicas, “ouvintistas” sobre aqueles.
 
O autor enfatiza a superioridade que os ouvintes impõem aos surdos.
 
“O surdo é detentor da herança genética da espécie humana que lhe confere o potencial cognitivo, gerador das funções cerebrais superiores nomeadamente, a criação de uma linguagem natural, perfeitamente apta a preencher a função comunicativa na sua maior complexidade e expressividade”
Baptista A, 2008
 
Problema do diagnóstico tardio da surdez:
 
A surdez não se vê exteriormente, por isso, é descoberta tardiamente o que implica que a criança fique privada de linguagem até uma idade tardia.
 
Para terminar,
 
O uso da LGP é essencial para o desenvolvimento das crianças surdas e para o seu processo de aprendizagem e integração social. Sem ela, os jovens surdos adquirem graves problemas de desenvolvimento e de aprendizagem, além de graves problemas de auto-estima.
 
O processo de ensino/aprendizagem dos alunos surdos não pode ser igual ao dos ouvintes: o canal de input bem como o de output são completamente diferentes.
 
É perfeitamente possível que os alunos surdos cumpram os currículos das diferentes disciplinas, mas apresentado de forma apropriada e sempre através da LGP.
 
O ensino bilingue, utilizado com consciência profissional, com nível crescente de exigência, é o que mais se adequa aos surdos profundos.
 
A inclusão, para os surdos, faz-se no grupo de surdos e, também, com os ouvintes, mas para os surdos filhos de pais ouvintes, a comunidade linguística de referência é fundamental, bem como a presença de professores surdos que lhes servirão de modelos.
 
As escolas de referência são uma boa resposta para as necessidades dos alunos surdos e são, também, pólos de divulgação da LGP, da identidade surda e fornecem aos ouvintes a oportunidade de conviver com a comunidade surda e com a LGP.
 
É uma utopia imaginar que a escola adequada para uma criança surda é a escola do bairro, onde ele não tem pares (crianças surdas como ele) para comunicar. É, também, utopia pensar que o ME vai colocar um Intérprete para cada aluno…
Sei que a comunidade surda necessita de Intérpretes nos locais públicos, não apenas nas escolas, de modo a acederem aos serviços da comunidade tal como as pessoas ouvintes.
 
A luta ainda não terminou, mas deram-se passos muito importantes. É preciso não dar passos atrás.

publicado por Luisa Campos às 22:47
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