Terça-feira, 12 de Março de 2013

O grito da gaivota ou a surdez vista por dentro

Lemos com a turma do 8º2 (turma bilingue) a obra "O Grito da Gaivota" de Emmanuelle Laborrit e sobre a mesma e refletindo sobre surdez e as dificuldades de comunicação com ouvintes, escreveu a aluna Diana, surda bilingue:

 

"Eu sinto-me bem como sou agora... Consegui encontrar as pessoas na boca. É difícil comunicar com as pessoas ouvintes. Eu escrevo sempre num papel para perceber."

 

Bravo, Diana!


publicado por Luisa Campos às 14:08
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Segunda-feira, 18 de Maio de 2009

A minha comunicação no Seminário da A. Surdos de Guimarães

A comunicação é uma actividade de extrema importância para o ser humano. Somos seres sociais e, por isso, necessitamos de estabelecer contactos com os outros seres e… connosco.

Antes de nascer, o bebé tem, já uma comunicação com a mãe: sente o bater do seu coração e todos os movimentos que esta faz. É por esta razão que os médicos colocam o bebé recém-nascido sobre a mãe, para que ele sinta o bater do coração materno e, assim, se tranquilize da agressão que é o parto, a primeira inspiração e a hostilidade que o mundo apresenta para aquele pequeno ser.
Se o bebé for ouvinte e os pais ouvintes, a aquisição da língua faz-se de forma perfeitamente espontânea e natural, por mera e simples exposição à comunicação e língua da comunidade.
Se o bebé for surdo e tiver pais surdos, utilizadores da LGP, a comunicação acontece da mesma forma natural e espontânea, por exposição à comunicação da língua da sua família.
Qual a diferença entre estes bebés e seus pais?
No 1º caso, a língua é oral e auditiva e é a língua da maioria do seu país.
No 2º caso, a língua é visual e motora e é língua minoritária
Sabe-se, pela investigação, que as mães surdas utilizam estratégias de comunicação visuais e, rapidamente, ensinam o seu bebé a fixar o seu rosto, a fixar as suas mãos, a seguir os seus movimentos.
Quando nasce um bebé surdo numa família de ouvintes, o problema surge… 
 
Os pais ouvintes querem que os filhos surdos falem...
  • Se lhes assegurarem que isso depende do Implante Coclear, eles fá-lo-ão
  • Se lhes assegurarem que isso se pode alcançar através da LGP, eles tentarão aprender essa língua.
Mas, se lhes dizem que a língua gestual impede o desenvolvimento da oralidade, eles procurarão impedir o contacto dos filhos com essa língua...
 
Quais os problemas que se colocam aos pais?
 
 De acordo com as visões da surdez, assim se podem enquadrar as opções que são colocadas aos pais:
  • Visão clínica/terapêutica – procuram-se as causas, o diagnóstico, a opção implante coclear (vista como “a cura” para a surdez)
  • Visão linguística – põe o tónus na problemática da aquisição da língua oral/gestual
  • Visão educacional - o eterno dilema sobre as opções oralistas, gestualistas na educação da criança surda…
  • Visão social  - problemas na integração na sociedade maioritária, dificuldades na procura de emprego…
  • Visão política -  o “Deaf empowerment” movimento que luta pelo poder da comunidade surda, pelo seu direito á diferença e à língua gestual.
Assim:
·         De um lado há a defesa do oralismo que é visto como a “normalidade”, prometendo respostas com o avanço tecnológico.
·         Do outro lado há o bilinguismo que defende a LGP como a língua dos surdos e até a ideia da identidade e cultura surdas.
 
Como perspectiva antagónicas:
 
  • Normalizar – visão da saúde
  • Diminuir os estigmas –visão pedagógica
 
São, pelo apresentado, os filhos surdos profundos com pais ouvintes que levantam mais problemas.
Visões da surdez:
 
 

Ciências biológicas
 
 I

Deficiência
 
Ciências humanas
 
 I 

Diferença
 I 
 
Procuram resposta nos avanços tecnológicos
  I
 
Defendem a LG como a língua dos surdos e a ideia de uma cultura surda
 
  I
 
Procura “normalizar”
  I
 
Procura reduzir os estigmas

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A identidade surda baseia-se no uso da LG em contacto com outros surdos
Através da LG, surgem novas possibilidades de compreensão, de diálogo, de aprendizagem. Por isso, a LG é a única capaz de fornecer identidade ao surdo.
 
A identidade – é a busca de especificidades que estabeleçam fronteiras identificatórias com o outro, bem como a pertinência dos outros membros do grupo social a que pertence.
 
Os falantes de uma mesma língua interagem mais entre si, do que entre falantes de diferentes línguas.
Skliar, 1998 afirma que “o problema não é a surdez, não são os surdos nem a língua gestual, mas as representações dominantes, hegemónicas, “ouvintistas” sobre aqueles.
 
O autor enfatiza a superioridade que os ouvintes impõem aos surdos.
 
“O surdo é detentor da herança genética da espécie humana que lhe confere o potencial cognitivo, gerador das funções cerebrais superiores nomeadamente, a criação de uma linguagem natural, perfeitamente apta a preencher a função comunicativa na sua maior complexidade e expressividade”
Baptista A, 2008
 
Problema do diagnóstico tardio da surdez:
 
A surdez não se vê exteriormente, por isso, é descoberta tardiamente o que implica que a criança fique privada de linguagem até uma idade tardia.
 
Para terminar,
 
O uso da LGP é essencial para o desenvolvimento das crianças surdas e para o seu processo de aprendizagem e integração social. Sem ela, os jovens surdos adquirem graves problemas de desenvolvimento e de aprendizagem, além de graves problemas de auto-estima.
 
O processo de ensino/aprendizagem dos alunos surdos não pode ser igual ao dos ouvintes: o canal de input bem como o de output são completamente diferentes.
 
É perfeitamente possível que os alunos surdos cumpram os currículos das diferentes disciplinas, mas apresentado de forma apropriada e sempre através da LGP.
 
O ensino bilingue, utilizado com consciência profissional, com nível crescente de exigência, é o que mais se adequa aos surdos profundos.
 
A inclusão, para os surdos, faz-se no grupo de surdos e, também, com os ouvintes, mas para os surdos filhos de pais ouvintes, a comunidade linguística de referência é fundamental, bem como a presença de professores surdos que lhes servirão de modelos.
 
As escolas de referência são uma boa resposta para as necessidades dos alunos surdos e são, também, pólos de divulgação da LGP, da identidade surda e fornecem aos ouvintes a oportunidade de conviver com a comunidade surda e com a LGP.
 
É uma utopia imaginar que a escola adequada para uma criança surda é a escola do bairro, onde ele não tem pares (crianças surdas como ele) para comunicar. É, também, utopia pensar que o ME vai colocar um Intérprete para cada aluno…
Sei que a comunidade surda necessita de Intérpretes nos locais públicos, não apenas nas escolas, de modo a acederem aos serviços da comunidade tal como as pessoas ouvintes.
 
A luta ainda não terminou, mas deram-se passos muito importantes. É preciso não dar passos atrás.

publicado por Luisa Campos às 22:47
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Terça-feira, 14 de Abril de 2009

O desenvolvimento das relações sociais no jovem surdo

O ser humano vive em grupo, em sociedade, pelo que age, influencia e é influenciado pelos diferentes sistemas ou grupos em que se insere tal como é enunciado no modelo ecológico do desenvolvimento humano de Bronfenbrenner (1979) que propõe que o ser humano em crescimento se desenvolve interagindo com os cenários, mudando e provocando mutações nesses cenários nos contextos mais vastos em que aqueles estão inseridos.Da mesma forma, as interacções que a criança estabelece com o meio e com as pessoas e a forma como a própria criança percebe, interpreta e define essas relações são determinantes para o desenvolvimento da mesma, de acordo com o preconizado pelo modelo transaccional.

A adolescência é a fase da vida do ser humano em que as relações sociais horizontais (com pares) assumem grande relevância e notoriedade. É uma fase de grande crescimento e desenvolvimento social que se pode tornar geradora de algum desconforto nas relações verticais (com adultos, sejam eles os pais ou os professores).
As competências sociais e emocionais são enunciadas por Greenberg e Kuché (1993) citados por Calderon e Greenberg (2003) como os seguintes processos e manifestações:
·         Boa habilidade de comunicar;
·         Capacidade de pensar independentemente;
·         Capacidade de se auto-orientar e controlar;
·         Flexibilidade em se adaptar a situações particulares, incluindo aqui a habilidade de ter diferentes perspectivas de uma mesma situação)
·         Capacidade em confiar no outros e obter a confiança deles;
·         Perceber e compreender a própria cultura e valores bem como a dos outros;
·         Utilizar comportamentos hábeis para manter relacionamentos saudáveis com outros e atingir objectivos socialmente aprovados.
Estas competências adquirem-se e desenvolvem-se através do tempo e das experiências que a criança e o jovem vão adquirindo, são independentes umas das outras e prolongam-se até à idade adulta. O maior ou menor desenvolvimento destas competências depende ainda do temperamento e personalidade de cada um, dos valores familiares e sociais, do background educacional, normas culturais…
As crianças e jovens surdos são particularmente vulneráveis em termos do desenvolvimento social pois são maioritariamente filhas de pais ouvintes, que por não ser feito rastreio universal da surdez, só se apercebem das dificuldades auditivas e necessidades comunicacionais dos filhos quando a linguagem oral devia despontar. Essa dificuldade permanece se os pais não forem devidamente esclarecidos da necessidade de aprenderem LGP (Língua Gestual Portuguesa) o mais precocemente possível de modo a estabelecer comunicação significativa e eficaz com os seus filhos.
As dificuldades começam na família, no primeiro sistema em que a criança interage e se integra socialmente e alargam-se aos seguintes: se é portadora de surdez severa ou profunda e é colocada num Jardim-de-infância que é frequentado apenas por crianças ouvintes a socialização e consequente desenvolvimento de auto-estima estão comprometidas pela falta de comunicação e falta de imersão num ambiente propiciador de comunicação e favorecedor da criação de amizades.
Na adolescência, idade em que a identificação com pares (outros jovens surdos) e com a Cultura e Comunidade Surdas a que pertencem pelas suas necessidades e características comunicacionais, se não houver um grupo alargado de socialização no qual os jovens se possam integrar poderá haver riscos para o desenvolvimento social e afectivo. Se frequentar uma escola de referência com ensino bilingue para alunos surdos, o adolescente surdo terá a possibilidade de estabelecer e manter relacionamentos com outros adolescentes surdos (rapazes e raparigas), fazer aprendizagens na sua língua materna (se for filho de surdos) ou na sua língua natural (se for filho de ouvintes), ter professores surdos com os quais pode estabelecer um relacionamento vertical idêntico ao que os jovens ouvintes podem estabelecer com os professores ouvintes, de ver valorizada a sua língua, a cultura do grupo a que pertence e de poder crescer como ser humano.
É na adolescência que se começam a estabelecer relações de amizade mais próximas (“melhores amigos” ou “amigos íntimos”) e que o grupo de amigos assume uma grande importância nomeadamente fornecendo apoio emocional, validação social, informações (particularmente relevantes para os surdos, que dificilmente obtêm informações junto apenas de jovens ouvintes…), conselhos, sentimentos de solidariedade. Pelas razões apontadas, é importante que os jovens surdos se sintam verdadeiramente ligados com outros jovens e adultos surdos através de programas escolares (escolas de referência), frequência de Associações de Surdos e de outras actividades em que tenham a experiência da comunicação sem restrições entre iguais.
O bom desenvolvimento biopsicossocial está relacionado com as experiências de amizade (individual e grupal) estabelecidas na adolescência e são particularmente importantes para os jovens surdos, quando se processam entre surdos. 
 
Referências:
Bronfenbrenner, U. (1996). A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas
Calderon R. & Greenberg M.(2003)- “Social and emocional development of deaf children. Family, School and program effects”. In: Marchark M. & Spencer E., coord. Handbook of Deaf Studies, Language and Education. Oxford: University Press. p. 177-202
Marchark M. & Spencer E., coord. (2003).Handbook of Deaf Studies, Language and Education. Oxford: University Press.

publicado por Luisa Campos às 23:45
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O papel do Intérprete de Língua Gestual

O intérprete contribui para que o surdo ouça com os olhos e fale com as mãos. (Jerónimo Cardan, séc.XVI).

 Neste pequeno espaço vamos explicar qual é o papel do intérprete de língua gestual. Os intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (LGP) trabalham directamente com pessoas Surdas e pessoas Ouvintes. São os responsáveis por transmitir fielmente a mensagem que está a ser dita através da LGP do Surdo ou da palavra dita do Ouvinte.

 Os Surdos têm acesso a informação e ao contacto com o mundo exterior através do Intérprete de LGP. Seja a ver televisão, no consultório médico, na repartição das finanças, na entrevista de emprego, na aula, no exame de código da carta de condução ou na simples compra de um bilhete de comboio. Actos comuns do dia-a-dia que sem intérprete ficam desprovidos de comunicação natural.
Para que os Surdos estejam plenamente integrados na sociedade, é necessário que o intérprete de LGP esteja presente em todos os locais públicos para que a comunicação seja possível. Uma presença que não é um luxo mas uma necessidade básica para os Surdos. É fundamental para o intérprete de LGP o contacto com a cultura e comunidade surda, para que assim possa aperfeiçoar os seus conhecimentos.
A maioria dos intérpretes trabalha em escolas, onde estão alunos surdos.É um elo de ligação entre os alunos surdos e os pares ouvintes: colegas, pessoal docente e não docente.
Na nossa escola há alunos que necessitam dos intérpretes na sala de aula para poderem ter acesso a toda a informação da disciplina. Estes técnicos são a ponte de comunicação entre o professor da disciplina e o aluno e vice-versa.
As intérpretes de Língua Gestual
Sara Barbosa e Vera Macedo

publicado por comunicamao às 11:07

editado por Luisa Campos às 11:11
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.Blogue da Educação de Surdos Lamaçães

Este blogue tem como objectivos a divulgação de actividades, novidades e informações entre todos os profissionais (docentes e técncios) e entre estes e os Encarregados de Educação. Deve ser um espaço de partilha, com dinamização e participação frequente de todos.

.Educação Bilingue

Os alunos Surdos profundos podem/devem optar pela opção bilingue, beneficiando, assim, de todos os recursos que o AEL pode oferecer.

.Intervenção precoce

O atendimento precoce e intervenção junto dos bebés surdos e das suas famílias e/ou cuidadores é um dos princípios que defendemos e que reputamos de importância decisiva no sucesso futuro da pessoa surda.

.LGP

A LGP é a língua natural da comunidade surda Portuguesa. É uma língua visuo-motora com todas as características das línguas orais.

.Português 2ª língua

Para os alunos surdos de opção bilingue, o Português deve ser apresentado/ensinado através da metodologia das línguas não maternas, isto é, adaptado à aprendizagem visual.

.Autoras

Luísa Campos e Vera Macedo

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